Açude Velho: um espelho de histórias que inspiram arte e imaginação em Campina Grande

Símbolo da cidade, o Açude Velho inspira mais do que caminhadas e passeios ao ar livre. Suas águas, lendas e paisagens servem de matéria-prima para artistas, designers e contadores de histórias.

Açude Velho/Foto: Divulgação (via apresentação de Rabi Araújo)

Na Escola Municipal Félix Araújo, ele já foi representado de várias formas e em diversas ocasiões pelos alunos. Uma relação de pertencimento e reconhecimento histórico-cultural deste espaço tão simbólico para a cidade de Campina Grande.

Maquete do Açude Velho por alunos da EMEF Félix Araújo/Foto: João Ademar

Sempre envolvidos, a poucos metros desse cartão-postal, os alunos 5º ano do mergulharam em experiências que mostram como a arte pode nascer da memória coletiva e dos laços com o território, do Teatro ao Design, como fonte de inspiração para uma peça, uma cadeira e, agora, para novas formas de ver o lugar onde se vive.

Rota entre EMEF Félix Araújo e o Açude Velho/Google Maps

Rabi Araújo e a cadeira que nasceu da cidade

O arquiteto e designer Rabi Araújo visitou a escola para conversar com os estudantes sobre suas criações. Uma delas chamou especialmente a atenção das crianças: a Chaise Campina, uma cadeira com curvas suaves que representam as margens do Açude Velho e as memórias afetivas do artista com a cidade.

Chaise Campina/Foto: Divulgação (via apresentação de Rabi Araújo)

Durante a conversa, ele contou como começou a se interessar por arquitetura ainda pequeno:

“Eu brincava de terra na frente da casa da minha avó. Botava o pé, enchia de areia, tirava o pé e fazia casinha”, lembrou Rabi, sorrindo ao ouvir que muitos alunos também já brincaram assim.

Entrevista a Rabi Araújo/Foto: João Ademar

As perguntas das crianças surgiram aos montes:

— Qual obra você mais gostou de fazer?
— Como sua arte chegou no Rio de Janeiro?
— Foi difícil entortar a cadeira?

Com paciência e entusiasmo, Rabi respondeu a todas as perguntas e destacou que desenhar a Chaise Campina foi uma forma de homenagear o lugar onde nasceu. “Precisava retratar meu nascimento e a cidade, então desenhei essa cadeira como uma lembrança afetiva”, contou.

Jack, o jacaré que virou teatro

Outra inspiração nascida às margens do açude foi a peça “Jack, o jacaré do Açude Velho”, escrita pelo multifacetado Saulo Queiroz. A peça foi criada durante uma oficina de teatro por ele ministrada na Universidade Estadual da Paraíba e mistura lenda urbana, humor e educação ambiental.

“Uma das atividades que desenvolvi com os alunos foi justamente encenar um espetáculo ao fim do ano e do curso. Em 2013, então, tive o insight de levar ao palco a história dessa criatura trazida de longe para o habitat da Borborema, proporcionando um possível debate sobre ecologia e preservação do Açude Velho”, comenta o teatrólogo, e completa: “O que me movia também era eternizar o jacaré na cena, já que ele tinha uma aura de lenda urbana, mesmo sendo de carne e osso”.

Levando em conta tudo isso, Saulo batizou nosso herói com o nome de Jack, como uma figura mítica e artística, “um pop star campinense”! Daí o batismo: Jack unia o glamour de Michael e a irreverência do Pandeiro, dois Jacksons, mas com sonoridades diferentes, inclusive na pronúncia.

“Na composição visual, ele carrega o chapéu comum a ambos, o pandeiro específico do nosso Jackson e a luva prateada do astro americano. Esse mix de estrelas também justifica esse ar pretensamente cosmopolita da cidade”, completa.

Jack o Jacaré do Açude Velho/Foto: Divulgação (Rede ITA/Programa Diversidade)

A história do jacaré desperta o imaginário infantil até hoje. A aluna Lorena, do 4º A, lembrou: “Ele fugiu, foi para o Açude Velho. Os bombeiros foram lá, tiraram o jacaré. Agora o açude está seguro.”

Segundo registros históricos, o animal realmente existiu: era um jacaré-de-papo-amarelo, solto no açude nos anos 1980. Alimentava-se de peixes e galinhas d’água, nunca atacou ninguém, mas virou lenda. Em 2004, foi resgatado após ser ferido por pedradas e passou a viver sob cuidados no Museu Vivo dos Répteis da Caatinga, tornando-se uma figura emblemática da cidade. Até bloco de carnaval com seu nome existe!

Bloco de Carnaval “O Jacaré do Açude Velho/Foto: Reprodução Jornal da Paraíba

Um açude cheio de memória

O Açude Velho foi inaugurado em 1830, como resposta às grandes secas que atingiam o Nordeste. Suas águas, vindas do antigo Riacho das Piabas, garantiram o abastecimento da cidade por mais de um século. Com o crescimento urbano, passou por transformações: ganhou calçadão, ciclovia, iluminação pública e esculturas que homenageiam a história da cidade.

Entre os monumentos que cercam o açude, destacam-se:

  • Os Pioneiros da Borborema, em homenagem aos indígenas, tropeiros e trabalhadoras do algodão;
  • A Farra da Bodega, celebrando Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga;
  • O Monumento dos 150 anos de Campina Grande;
  • O Museu de Arte Popular da Paraíba (Museu dos Três Pandeiros), projetado por Oscar Niemeyer.

Criar é também lembrar

A experiência das crianças da Escola Félix Araújo mostra como um espaço urbano pode se transformar em fonte de arte e aprendizado. Seja em forma de cadeira, teatro ou brincadeira, o Açude Velho segue sendo uma paisagem que desperta curiosidade, afeto e pertencimento.

Mais do que cenário, ele é personagem vivo da cidade, e agora, também, das histórias contadas por pequenos campinenses.


Produção e reportagem: Alunos do 5º Ano da EMEF Félix Araújo.
Edição de texto: Mídia Legal

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