Entre liberdade e limites: o que pensam os estudantes sobre o controle do uso do celular pelos pais

Entre a busca por independência e os limites colocados pelos pais e responsáveis, muitos jovens se veem divididos entre a privacidade e o controle no uso dos celulares.

Em um mundo cada vez mais conectado, as crianças têm acesso às tecnologias desde muito cedo, um fato que chama a atenção dos pais quanto à necessidade de definir limites. Uma pesquisa realizada em 2024 pelo Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade (Cetic.br) mostrou que 36% das crianças brasileiras de 6 a 8 anos possuem um celular próprio, e esse número tende a crescer nos próximos anos.

O celular divide espaço com livros e cadernos, sendo presença constante na rotina escolar/Foto: Igor Guedes

Visões dos estudantes sobre o uso do celular

Durante uma roda de conversa com estudantes da Escola Félix Araújo, em Campina Grande (PB), foi possível perceber que a relação entre segurança e privacidade é um tema que desperta bastante interesse entre as crianças.

“Meu pai e minha mãe olham meu celular todo dia. É entender que é dever deles olhar.” (Luís Gabriel, 11 anos)

“Ao mesmo tempo que é necessário o monitoramento da família, também tira um pouco a privacidade da gente.” (Yanne Martins, 11 anos)

As crianças da Geração Alpha (2010–2020) crescem com a presença diária dos dispositivos tecnológicos/Foto: Helder Guilherme

“Eu acho certo pra ver se a criança está fazendo coisa errada, sofrendo bullying ou alguma coisa do tipo.” (Théo Eduardo, 10 anos)

“Eu acho certo os pais olharem, porque o mundo tá perigoso.” (Maria Aluska, 10 anos)

Para esses estudantes, o celular não é apenas um meio de diversão, mas também uma ferramenta de estudos, que cresceu especialmente durante a pandemia da Covid-19, quando as aulas e atividades passaram a ocorrer online.

Por isso, quando os pais impõem limites, como restringir o tempo de tela, algumas crianças sentem que estão sendo desconectadas não apenas da internet, mas também dos seus espaços de convivência e aprendizado.

Impactos do uso excessivo na saúde mental

A psicóloga Fernanda Palmeira, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e especialização em Neuropsicologia, explicou os riscos do uso do celular quando feito de forma excessiva ou sem supervisão adulta.

“O uso ilimitado do celular desde muito cedo pode trazer alguns riscos, principalmente para o desenvolvimento da criança. No campo da psicologia, sabemos que o contato com o mundo real, o brincar livre e as interações sociais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Jean Piaget mostrava que a criança aprende ativamente explorando o ambiente.”

Segundo a especialista, quando o celular ocupa esse espaço de descoberta, a criança pode ter dificuldades em desenvolver concentração, criatividade, autorregulação emocional e até noções de identidade.

Além disso, estudos recentes indicam prejuízos no sono, aumento da ansiedade e até risco de dependência digital quando não há limites claros.

“Não significa que a tecnologia seja totalmente ruim, mas o ideal é que o uso seja dosado, supervisionado e compatível com a idade”, acrescenta Fernanda.

Como os pais podem orientar e proteger

Para proteger as crianças dos riscos do acesso ilimitado à internet, é essencial que os pais e responsáveis orientem, conversem e usem ferramentas de controle. Aplicativos como Google Family Link, Qustodio e Microsoft Family Safety permitem monitorar o tempo de uso, os aplicativos mais acessados e até definir os horários em que o celular pode ser utilizado.

Na escola e fora dela, o celular acompanha o dia a dia dos estudantes e desafia novos hábitos de aprendizado/Foto: Igor Guedes

Além disso, a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 227, que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança o direito à educação, ao lazer e à proteção contra toda forma de negligência, violência ou exposição.

Entre liberdade e proteção

O uso do celular é parte da rotina das novas gerações, mas exige equilíbrio e diálogo constante entre pais e filhos. O desafio está em encontrar o ponto certo entre liberdade e segurança, de modo que a tecnologia seja uma aliada, e não um obstáculo, ao aprendizado e à convivência.

E na sua casa, como é o uso do celular? O diálogo pode ser o primeiro passo para um uso mais consciente e saudável das telas.


Reportagem: Helder Guilherme e Igor Guedes

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