Marcelinho Paraíba: o menino de Campina que encantou a Alemanha
No início dos anos 90, um garoto da periferia de Campina Grande, na Paraíba, vendia dindins e picolés na feira para ajudar a família. Hoje, seu nome está marcado na história do futebol internacional. Ele vestiu a camisa da Seleção Brasileira, brilhou nos gramados da Europa e conquistou corações na Alemanha. Esta é a história de Marcelinho Paraíba.
Onde tudo começou
Marcelo dos Santos nasceu em uma família humilde, filho de dona Elita e de Pedrinho Cangula, um dos principais jogadores da história do Campinense e também seu ídolo. Foi no campo da raposinha, categoria de base do Campinense Clube, que o menino deu os primeiros dribles rumo a uma vida diferente.
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Marcelinho Paraíba e o pai, Pedro Cangula/Foto: Acervo PB Esportes |
“Quando eu não estava treinando na raposinha, sempre que tinha oportunidade, eu ia para os campos de pelada brincar c om meus amigos. Então eu expirava futebol, bola o tempo todo.”
Assistir aos treinos dos profissionais era um ritual. De tanto aparecer por lá, ficou conhecido por ajudar a buscar bolas atrás do gol. Até que, certo dia, foi convidado a treinar com os jogadores do time principal. Ouvir dos próprios atletas que tinha talento deu a ele a certeza de que o sonho era possível.
“Eles falavam que eu tinha potencial para ser jogador, e isso aí foi me incentivando a cada dia.”
A chance e a virada
Aos 16 anos, foi campeão com a base do Campinense. Um ano depois, em 1991, virou reserva do time profissional. Era jovem demais para entrar em campo, só poderia jogar oficialmente aos 20. Mas o destino antecipou os planos. Numa partida amistosa contra o CRB, por falta de jogadores, foi escalado. Jogou com personalidade e chamou a atenção do técnico João Feijó, que o levou para o Corinthians Alagoano.
Dali em diante, a bola rolou com mais velocidade. Passou por clubes como Paraguaçuense e Santos onde, segundo ele, a ficha começou a cair:
“No Santos eu percebi que meu sonho estava se tornando realidade. Um garoto que sai da periferia de Campina Grande, que jogou apenas algumas partidas amistosa e em menos de um ano já está no Santos de Pelé! Ali eu já vi que meu sonho estava se tornando realidade.”
O nome e a fama
Em 1995, brilhou no Rio Branco e, dois anos depois, foi contratado pelo São Paulo, onde ganhou o apelido que o Brasil inteiro passou a conhecer: Marcelinho Paraíba.
Depois de três anos vestindo a camisa tricolor, foi negociado com o Olympique de Marseille, da França, onde jogou por uma temporada antes de retornar ao Brasil.
No segundo semestre de 2001, brilhou com a camisa do Grêmio, sendo campeão da Copa do Brasil. Neste mesmo ano, veio a sonhada convocação para vestir a camisa amarela da Seleção.
“Quando eu recebi a convocação para Seleção Brasileira foi uma alegria imensa, pois a gente sabe que poucos jogadores, principalmente aqui da Paraíba, tiveram a oportunidade de vestir a camisa da Seleção”.
Suas atuações chamaram atenção fora do país mais uma vez e dessa vez, o destino seria a Alemanha.
O susto (e o sucesso) na Alemanha
Em 2001, veio o desafio mais inesperado: jogar na Europa. Recebeu proposta do Hertha Berlim, da Alemanha. A empolgação vinha com medo.
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Marcelinho atuando pelo Hertha Berlim/Foto: Acervo Blog de Primeira |
“Quando eu recebi a proposta fiquei bastante feliz, mas com medo também. Porque, na época, a gente ouvia falar sobre Hitler. E realmente eu me assustei, por achar que seria um país bastante nazista e achava que lá eu ia ter muita dificuldade em questão da cultura, da língua, alimentação. Passou tudo pela minha cabeça, mas quando cheguei em Berlim, foi tudo diferente.”
Em pouco tempo, conquistou os alemães com sua alegria e talento. Foram cinco anos no Hertha e mais dois no Wolfsburg. Marcelinho se tornou ídolo, levantou troféus e provou que quem vem de longe pode chegar longe.
O recado de quem já viveu
Hoje, aos 49 anos, Marcelinho não joga mais como profissional. Mas carrega a experiência de quem venceu e também errou.
“Não é fácil ser jogador, mas também não é impossível. Tem muita ilusão. Você tem que ser disciplinado, treinar, dormir cedo. E, principalmente, não desistir no primeiro obstáculo.”
Ele faz questão de deixar um alerta para os jovens que estão começando:
“Aconselho os jogadores mais jovens, que estão começando agora, a tomarem cuidado quando começarem a ganhar dinheiro. Não façam como eu fiz, acabei desperdiçando quase tudo por falta de sabedoria e por não ter a cabeça no lugar para investir e cuidar da minha família.”
Um exemplo para não esquecer
A história de Marcelinho Paraíba é sobre talento, sim. Mas é, acima de tudo, sobre perseverança, superação e escolhas. De Campina Grande para o mundo, ele mostrou que os sonhos dos meninos das periferias também podem se tornar realidade, desde que se tenha coragem, disciplina e coração.
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